O estudo sobre o conceito de Objeto de Aprendizagem (OA) foi desenvolvido para explorar a poética na criação em artes e no processo de ensino e aprendizagem em artes, possibilitando que se promovesse um “Encontro Imaginário entre Guignard, Antipoff e o Projetor Antigo”.
O desafio motivou e mobilizou ações para o desenvolvimento da disciplina Tópicos em Ensino de Arte no Curso de Artes Plásticas Licenciatura da Escola Guignard, Universidade do Estado de Minas Gerais – UEMG.
O Objeto de Aprendizagem Poético (OAP) é um recurso pedagógico que tem como fundamento o conceito grego de poiesis, associado à produção, criação e formação. Sua arquitetura em variados formatos e meios, analógicos ou digitais, é projetada para que possa ser reutilizável e adaptável a diferentes públicos.
Os OAP favorecem a aprendizagem significativa em contextos educacionais múltiplos, desde a educação básica ao ensino superior. Podem abordar diferentes temas, desde a história da arte à teoria das cores.
No site Estágio de Artista ,Tatiane Fernández estruturou um curso de extensão baseado na concepção de um OAP. Para a artista e professora, os OAP são como “máquinas provocadoras de eventos artísticos/pedagógicos”, abertos e inclusivos. Exigem estratégias metodológicas ativas que impulsionam a experimentação em arte e a experiência estética, o estímulo à curiosidade, à criatividade, à imaginação e à reflexão crítica.
UM POUCO SOBRE GUIGNARD & ANTIPOFF
Alberto da Veiga Guignard (1896-1962), pintor e professor brasileiro, nasceu em Nova Friburgo, Rio de Janeiro. Autodidata, teve uma vida marcada por sua paixão pela arte e por uma incessante busca pela expressão artística. Sua obra é caracterizada por uma fusão de estilos, incorporando elementos do impressionismo, expressionismo e abstracionismo.
As pinturas inspiradas na exuberância da natureza brasileira, conhecidas pelas cores vibrantes, pinceladas expressivas e atmosfera poética. Seus retratos,com os quais combina cenas imaginárias, fizeram de Guignard expoente de um legado significativo no cenário artístico brasileiro.
Tendo estudado na Europa desde a infância, Guignard absorveu influências da cultura artística do Velho Mundo. No Brasil desenvolveu seu estilo único e um ensino inovador ao trabalhar como professor de desenho na recém criada Escola de Belas Artes, em 1944, em Belo Horizonte.
Helena Antipoff (1892-1974), educadora e psicóloga russo-brasileira, desempenhou papel fundamental no desenvolvimento da educação especial no Brasil. Nascida em Grodno, na Bielorrússia, imigrou para o Brasil em 1929, colaborando com a renovação do sistema educacional mineiro.
Em 1932, com a ajuda de colaboradores, fundou a Sociedade Pestalozzi de Minas Gerais, em Belo Horizonte. Em 1945, direcionou suas ações profissionais para o Rio de Janeiro, onde também fundou a Sociedade Pestalozzi do Brasil. Em 1948, participou da criação da Escolinha de Arte do Brasil, juntamente com o artista pernambucano, Augusto Rodrigues (1913-1993).
Por sua dedicação à educação especial e à inclusão de crianças com deficiência no sistema de ensino regular, Antipoff é considerada uma das pioneiras no atendimento ao excepcional no Brasil. Ao longo de sua trajetória profissional, defendeu os direitos das crianças, a educação democrática e humanizadora. Implementou a formação regular de professores rurais em 1949, na Fazenda do Rosário, Ibirité. Valorizou o intercâmbio entre a arte e a educação como caminho para a formação das crianças, dos jovens e dos adultos.
CONSTRUINDO UM OAP
Um Encontro inusitado marcou nossas pesquisas nos acervos do Museu Helena Antipof, em Ibirité, e da Biblioteca acadêmica da Escola Guignard, durante os debates teóricos da disciplina.Tanto em um acervo, como no outro, o objeto slides fotográficos chamou a atenção da maioria dos participantes da disciplina.
A experiência única de experimentar a leitura das inúmeras imagens antigas por meio de um projetor analógico fomentou a escolha dos slides como suporte para a construção do Objeto de Aprendizagem Poético. O projeto envolveu a criação de slides analógicos e digitais em que foram imaginados diversos encontros entre dois ícones: Alberto da Veiga Guignard e a visionária professora Helena Antipoff.
Apesar de contemporâneos, não há indícios documentais de um encontro entre Guignard & Antipoff. Um elo possível entre eles passou a ser vislumbrado tomando como pressuposto a amizade de ambos com o artista e educador Augusto Rodrigues. Em um cenário idealizado, foram projetados encontros singulares entre os dois expoentes notáveis, unindo-os em seus respectivos campos de atuação.
UM ENCONTRO IMAGINADO
Em um ambiente em que a arte e a educação se entrelaçam, Guignard, com sua alma artística efervescente, compartilha suas experiências e inspirações, expondo as nuances de suas obras que capturam a beleza única do Brasil.
Helena Antipoff, por sua vez, absorveria as cores e formas desse universo artístico, enxergando além das telas e encontrando paralelos entre a expressão artística e a pedagogia inclusiva que ela tão fervorosamente defendeu.
A síntese entre passado e presente materializou-se em colagens digitais com elementos das obras de Guignard e da filosofia pedagógica de Antipoff, convergindo um diálogo visual inusitado. Nesses encontros fictícios, suas mentes criativas dialogam, trocando ideias sobre como a arte e a educação podem convergir para transformar e enriquecer a sociedade, deixando um legado duradouro que transcende as fronteiras de suas expertises individuais.
Os participantes da disciplina Tópicos em Ensino de Arte, coordenados pela professora e pelas possibilidades do acaso, exploraram a combinação da estética das formas, das cores e dos traços característicos do expressionismo de Guignard e da abordagem educacional inovadora de Antipoff.
A complexidade do desafio foi o mote para transformar colagens digitais em slides impressos. O Projetor Antigo, dotado de um encanto nostálgico, transformou-se na ferramenta ideal para dar vida a essa fusão artística. A luz projetada destacou texturas, sobreposições e contrastes das imagens apropriadas, proporcionando a cada um dos envolvidos uma experiência visual única.
Esse processo não se revelou apenas educativo, mas também uma celebração da criatividade e da superação de desafios. Os participantes não apenas exploraram a relação entre arte, novas e velhas tecnologias, desbravaram possibilidades tecnológicas, analógica e digital, dando forma ao Objeto de Aprendizagem Poético.
Cada uma das imagens recriadas, em formato de slides, impresso ou virtual, e os recortes audiovisuais de cenas experimentadas na captura dos acervos, superou as possibilidades e expectativas de uma representação, resultando em uma narrativa visual que transcende o tempo, conectando duas figuras influentes no mundo da arte e da educação.
Ao se associar a um projeto coletivo para a criação de um Objeto de Aprendizagem Poético, a turma de estudantes do curso de Artes Plásticas Licenciatura não só abraçou a fusão de estilos e ideias, mas também mergulhou na alegria e no desafio de incorporar elementos poéticos na produção do conhecimento em arte educação.
Esta experiência singular não apenas enriqueceu nossa compreensão sobre os meandros da história da arte e da história da educação, mas nos inspirou a todos a abraçar a inovação com reverência às raízes tradicionais. No encontro imaginário entre Guignard & Antipoff, provocado pelo encontro com o Projetor Antigo, reverberam a arte e a educação como espaços legítimos para se provocar novos itinerários e outros possíveis encontros.
Gildemir Lima – “Gil Sotero”
Marilene Almeida
Dezembro de 2023
projetando encontros imaginários
Guignard e Antipoff
projeções analógica e digital
13/12/2023 às 19h
Escola Guignard
Rua Ascânio Burlamarque, 540, Mangabeiras – Belo Horizonte
Disciplina – Tópicos em Ensino de Arte
Objeto de Aprendizagem Poético (OAP)
Ana Carolina Gomes
Evandro Campos Cruz
Gildemir Lima – “Gil Sotero”
João Moreno Felipe Vianini
Josue Barbosa
Marilene Almeida
Nívia Maria Horta Trindade
Philip Luiz de Paula Melo
Raiany Aparecida Costa
Rodrigo Gonçalves da Silva
Rosângela Paixão Fajardo
Silvia Gonzaga
Thiago Gomes Braga
Vitoria Medina Miranda
Créditos
Gildemir Lima – “Gil Sotero”
(webdesigner e diagramação)
João Moreno Felipe Vianini
(design gráfico cartaz)
Josue Barbosa
(monitor da disciplina e audiovisual)
Marilene Almeida
(professora coordenadora do projeto)
Silvia Gonzaga
(estágio docência PPG Artes/UEMG)
Thiago Gomes Braga
(projeção analógica)
Apoio:
Centro de Documentação e Pesquisa Helena Antipoff/CDPHA
Escola Guignard/UEMG
Fapemig
LEDOc
Museu Helena Antipoff/FHA
Programa de Pós-Graduação em Artes/UEMG
Programa de Pós-Graduação em educação/UFMG
Universidade Federal de Viçosa
Acervos
Escola Guignard
Museu Helena Antipoff
Agradecimentos
Ricardo Claret
Maria Alice Braga Zouani
TRABALHOS
Gil Sotero (Gildemir Lima), Evandro Campos e Rodrigo Silva
Numa fusão entre a arte digital e o jornalismo, o nosso trabalho ilustra o hipotético encontro entre dois ícones, Guignard e Helena. Buscamos explorar a interseção entre as trajetórias destes dois mestres, imaginando os momentos efêmeros que poderiam ter ocorrido em eventos públicos.
Ao retratar esses encontros noticiados, uma narrativa visual imaginária captura a essência desses artistas, transpondo a barreira do tempo para reunir Guignard e Helena num diálogo silencioso, mas eloquente, entre tintas e pixels. Usamos imagens individuais reais, colagem digital e também geração de imagens por I.A. O trabalho foi também impresso em acetato na tentativa de reproduzir a sua veiculação em projetores analógicos.
O resultado, assim, transcende a mera representação visual e se torna uma celebração da convergência de disciplinas artísticas, um tributo imaginário aos diálogos que poderiam ter ocorrido entre Guignard e Helena. Esta obra não apenas ilustra um encontro hipotético; ela cria um portal para a reflexão sobre a influência mútua entre os educadores, os artistas e o público em geral, onde a magia da criação se perpetua além das fronteiras do tempo e do espaço.
Gil Sotero (Gildemir Lima), Evandro Campos e Rodrigo Silva
“Paisagem Sonhada” – João Moreno
A cena se passa em um vilarejo nas montanhas de Minas Gerais, onde Guignard costumava se inspirar. No centro da paisagem, destaca-se uma igreja colonial com suas torres alongadas e detalhes arquitetônicos únicos, representando a sensibilidade artística de Guignard.
Ao redor da igreja, há uma praça animada onde pessoas vestidas com trajes tradicionais participam de atividades culturais e festivas. Uma atmosfera de celebração permeia o ar, com balões coloridos flutuando no céu. Esses balões, além de adicionar um toque de fantasia, simbolizam a visão educacional progressista de Helena Antipoff, representando a ascensão e a busca pelo conhecimento.
No primeiro plano da pintura, Guignard retrata detalhes minuciosos das montanhas, criando camadas suaves e tons suaves que caracterizam sua abordagem artística. A luz do sol poente destaca as formas das montanhas, proporcionando um contraste sutil entre luz e sombra.
No canto da cena, podemos incluir uma representação simbólica de Helena Antipoff, talvez em uma pose de observação, como se estivesse guiando e inspirando as pessoas na praça. Sua presença simboliza a importância da educação e do conhecimento na construção de uma sociedade vibrante.
Essa paisagem imaginária busca integrar elementos característicos de Guignard, como igrejas e montanhas, com uma homenagem a Helena Antipoff, incorporando balões e uma atmosfera educacional à cena. Essa fusão de elementos cria uma composição que celebra não apenas a beleza visual, mas também a riqueza cultural e educacional da região.
“Caminho de Sabará” – João Moreno
A pintura “Paisagem de Sabará, 1950” de Alberto da Veiga Guignard é uma obra singular que transcende o retrato tradicional da paisagem mineira. Nesta criação única, Guignard incorporou elementos distintos que adicionam camadas de significado à sua visão artística.
No centro da cena, uma igreja colonial de Sabará permanece imponente, com suas torres pontiagudas e arquitetura singular. conduzem o olhar para uma subida suave, uma rua de terra que serpenteia pelas colinas da cidade. Nessa rua, Helena Antipoff é representada subindo com determinação, simbolizando seu papel vital na educação e progresso da comunidade.
A figura de Guignard é introduzida de maneira sutil na composição. Ele é retratado observando a cena de uma janela em uma das casas históricas à beira da rua. Sua presença silenciosa adiciona um toque de introspecção à obra, como se estivesse testemunhando não apenas a paisagem, mas também a evolução da própria cidade.
A paleta de cores de Guignard é delicadamente empregada, com tons suaves que capturam a luz dourada do entardecer.
Um toque de magia à cena e simbolizando a aspiração humana e educacional da comunidade.
A atmosfera geral é de tranquilidade e contemplação, uma harmonia entre a história, a educação e a observação artística. “PAisagem de Sabará, 1950” é uma síntese magistral da riqueza cultural, educacional e artística de Minas Gerais, imortalizada na visão única de Alberto da Veiga Guignard.
Vitoria Medina Miranda
O encontro de Alberto da Veiga Guignard e Helena Antipoff, dois ícones marcantes da cultura brasileira, seria um encontro singular e enriquecedor, permeado por uma admiração mútua e respeito pelas suas trajetórias distintas, mas igualmente importantes.
Guignard, conhecido por sua genialidade artística e sensibilidade ímpar, e Helena Antipoff, renomada educadora e denfensora dos direitos humanos, se encontram em cenários inspiradores. Ao se encontrarem Guignard compartilha sua paixão pela arte e pela beleza das formas e cores, enquanto Helena poderia expressar sua dedicação à educação.
Talvez Guignard se sentisse inspirado a retratar a grandiosidade do trabalho de Helena Antipoff em suas telas, capturando não apenas sua imagem, mas também a força de sua dedicação e o legado de sua obra. Enquanto isso, Helena poderia encontrar na arte de Guignard uma expressão visual única das emoções e da alma humana, reforçando seu compromisso com a valorização da sensibilidade e da individualidade de cada pessoa.
Este hipotético encontro entre Guignard e Antipoff certamente seria marcado por uma troca de ideias, admiração mútua e um profundo respeito pelo talento e pelo trabalho um do outro. Suas visões distintas, porém complementares, poderiam se entrelaçar em um diálogo de criatividade, empatia e compromisso com o belo e humano, deixando um legado de inspiração e reflexão para as gerações futuras. Vitoria Medina Miranda
Raiany Costa
Raiany Costa – Colagem Digital – Guignard mandando um salve na exxxcola . Raiany Costa – Colagem Digital – D. Helena e Seu Guinard lendo na Minipinacoteca 3. Raiany Costa – Colagem Digital – Dona chegando na Guignard
Como visitar um lugar construído num espaço tempo após sua existência? Guignard, professor e artista plástico, não pôde conhecer a Escola que carrega como homenagem, seu nome e em algumas práticas, o seu legado. Inaugurada cerca de 32 anos após a morte de seu fundador, o prédio da Escola Guignard nunca recebeu a presença física daquele que a nomeia. Tornar esse encontro possível foi uma estratégia realizada a partir de mecanismos tecnológicos e colagens digitais.
Com a proposta da disciplina, Tópicos em Ensino da Arte: Objetos de Aprendizagem Poéticos (OAP): revisitando Guignard e a Minipinacoteca do Museu Helena Antipoff, elaborei um encontro entre o Artista Guignard e sua Escola, introduzindo Helena Antipoff nesse universo ao qual ela já estava habituada, o da Educação.
Confabulando possíveis cenários através da colagem digital, passado e presente foi costurado, ambientes e situações criadas em que os dois professores pudessem estar, numa brincadeira gerar memórias inventadas. Raiany Costa
Philip Luiz de Paula Melo
Silvia Gonzaga
DR da varanda”
Seria um reencontro espetacular!
Naquela Varanda, porém a noite estava fria,
O assunto, ah o assunto … uma discussão ou reflexão?
Ah, mas naquela noite,
Não se teve animo, apesar do privilégio daquela vista!
Pois o desânimo se fez frente.
Mas ELE, não se deixou derrotar, falou
“animo companheira! Está um caos? Está!
Mas precisamos entender onde isso começou.”
Avante!
Marilene Almeida
(professora coordenadora do projeto)
Foto Escultura – Miriam de Brito Nonato
Foto Helena Antipoff – Acervo Museu Helena Antipoff
Foto Guignard – http://iberecamargo.org.br/wp-content/uploads/2018/10/catalogo_um-mundo-a-perder-de-vista-guignard.pdfFoto Guignard – http://iberecamargo.org.br/wp-content/uploads/2018/10/catalogo_um-mundo-a-perder-de-vista-guignard.pdf
Foto Helena Antipoff e coral de Normalistas Rurais da Fazenda do Rosário, Ibirité, C. 1960. Acervo Museu Helena AntipoffFoto Parque Fundação Helena Antipoff – Acervo Museu Helena Antipoff – http://www.fha.mg.gov.br/noticia/educacao/11/2020/inauguracao-do-parque-ecologico-helena-antipoff
Foto Guignard – https://acervodigital.secult.mg.gov.br/museu-casa-guignard-mcg/136008-2/
Uma pedagogia focada no interesse e nas potencialidades permeia as concepções de Guignard & Helena Antipoff sobre como se aprende e como se ensina. Ambos comungavam visões semelhantes sobre o universo infantil, tinham como amigo em comum o artista e professor Augusto Rodrigues.
Em uma conversa por correspondência, Guignard confessa a Rodrigues: “Pintei hoje uma paisagem maravilhosa, eu acho que foi a paisagem mais linda que já vi. Mas não conta para ninguém, não. O céu eu roubei de uma criança” (apud Perdigão, 2020, p. 133).
Ao imaginar seu Museu da Criança, em 1929, Antipoff certamente teria incluído nele o universo onírico de Guignard. Neste “Encontro Imaginário”, tecem conversas sobre o que haveria no Museu: talvez sons coloridos, cores inventadas, pincéis mágicos, um jardim para brincar e um céu roubado de uma criança!
REFERÊNCIA
PERDIGÃO, João. Balões, vida e tempo de Guignard: novos caminhos para as artes em Minas e no Brasil. 1ª ed. Belo Horizonte: Autêntica, 2020.
Rosângela Farjado
Nívia Maria Horta
Ana Carolina Gomes